E quando pensamos que o entendimento dos gestores para as estruturas públicas está entrando nos eixos em prol do bem estar da sociedade, nos defrontamos com a edição de leis elaboradas com o olhar estreito, pouco profissional e favorável ao mercado imobiliário elitizado.
“De uma forma simplificada define-se urbanismo como o desenho e estudo das cidades.
O urbanismo é uma operação cujo objetivo é a transformação do espaço visando uma melhoria estética e da qualidade de vida, transmitindo sensações de segurança e conforto. Define as regras de interligação entre os elementos construídos e as várias partes da cidade, ou seja a forma urbana.
Para além de um instrumento de projeto, o urbanismo é uma ação política, económica e social, prolongada no tempo. Os instrumentos de gestão urbanística pressupõem, hoje em dia, uma rentabilização do espaço e a geração de lucros.
Em arquitetura o estudo da urbanística recai sobre a análise da forma urbana. No entanto, para se poder analisar uma cidade é preciso o contributo de outras disciplinas tais como a história, a sociologia, a geografia e a ecologia. O urbanismo é, assim, uma área multidisciplinar.” (http://www.arquiteturaportuguesa.pt)
Enquanto ciência multidisciplinar, uma vez que a cidade é um “ser vivo”, o Planejamento Urbano perpassa pela solução da complexa equação que envolve o adensamento de massas construídas, a mobilidade urbana, o conforto térmico, a preservação e integração com o meio ambiente e a topografia, o comportamento social, a análise das vocações setoriais quanto ao uso do solo urbano, macro e micro infraestrutura de suporte, a integração com os centros urbanos lindeiros, a preservação do patrimônio artístico e cultural, dentre outras variáveis.
Na década de 1940, a genialidade do engenheiro Mário Leal Ferreira e da equipe do Escritório do Plano de Urbanismo da Cidade do Salvador – EPUCS, desenvolveram as diretrizes para uma cidade viva, dinâmica, que recebeu um olhar eclético baseado nas peculiaridades de uma sociedade e do meio em que ela ocupava. Como não podia deixar de ser, o Decreto-Lei 701/48 concebia uma cidade em franco desenvolvimento, cujos vetores de expansão extrapolavam seus limites. O sistema viário passou a acompanhar os canais de drenagem, permitindo a fluidez da mobilidade nas cumeadas e nos vales, de forma sistêmica. As ocupações foram surgindo como consequência desta malha viária, propiciando uma ocupação planejada e diluída.
Imagine se esse sistema viário permanecesse apenas nas partes altas da cidade?
Enfim, não existiu outro plano diretor como aquele desenvolvido pelo EPUCS. Hoje, a comunidade soteropolitana está a mercê dos interesses do mercado imobiliário, que induzem os urbanistas a darem poucas asas à sua imaginação e inibirem o emprego de modelos teóricos e de vanguarda na urbanização da nossa cidade.
Salvador está na contramão das tendências urbanísticas dos grandes centros urbanos, que priorizam a absoluta preservação das áreas verdes (como meio de sobrevivência nas cidades), da redução de maciços construídos (que geram as “ilhas de calor”), estímulo à redução de veículos automotores individuais, descentralização das ocupações através de unidades de vizinhança, dentre outras medidas.
Os órgãos de classe repudiam o novo PDDU. A sociedade sofrerá com ele…
(DB)